O acúmulo de gordura no fígado, também chamado de esteatose hepática, é consequência do excesso de lipídios. Ou seja, a captação de ácidos graxos e a lipogênese superam a oxidação e exportação de ácidos graxos. O excesso de gordura no fígado torna-se perigoso porque este órgão é essencial no metabolismo lipídico, atuando como regulador central da homeostase lipídica. O fígado é responsável por orquestrar a síntese de novos ácidos graxos, sua exportação e subsequente redistribuição para outros tecidos, bem como sua utilização como substrato energético. Assim, quando uma das vias reguladoras são interrompidas, pode ocorrer uma precipitação e retenção de gordura hepática.
O excesso de gordura no fígado pode ser originada de duas formas: alcoólica e não alcoólica. A doença hepática gordurosa não alcoólica (DHGNA) afeta 25% da população adulta e é atualmente a doença hepática mais comum no mundo. As maiores prevalências regionais dessa doença são no Oriente Médio (32%) e na América do Sul (30%) e ainda está associada ao aumento da mortalidade, particularmente devido a doenças cardiovasculares, carcinoma hepatocelular e eventos relacionados ao fígado.
O espectro dessa doença vai desde a esteatose simples (fígado gorduroso não alcoólico), esteatohepatite não alcoólica (NASH), cirrose relacionada à NASH e carcinoma hepatocelular. Além disso, esta é uma doença complexa com múltiplos fatores envolvidos na patogênese que incluem modificadores ambientais e genéticos. Os fatores de risco para a progressão da fibrose em pacientes com DHGNA incluem síndrome metabólica, diabetes mellitus tipo 2, índice de massa corporal (IMC)/obesidade elevado, idade, grau de esteatose, alta resistência à insulina, biópsia basal mostrando inflamação e fibrose. Esse acúmulo de gordura hepática é resultado de um desequilíbrio entre a aquisição e a eliminação de lipídios, que são regulados por quatro vias principais: captação de lipídios circulantes, lipogênese, oxidação de ácidos graxos e exportação de lipídios em lipoproteínas de densidade muito baixa (VLDL).
Por outro lado, a doença hepática alcoólica (DHA) pode ser causada pelo consumo crônico de álcool superior a uma determinada quantidade diária, que varia consideravelmente entre os indivíduos. O espectro da DHA começa com o fígado gorduroso alcoólico, caracterizado por esteatose hepática. Em alguns casos, os indivíduos podem progredir e desenvolver inflamação hepática, lesão de hepatócitos e balonização, que é definida histologicamente como esteato-hepatite alcoólica. Por último, a doença pode progredir para a lesão hepática crônica e inflamação, a qual pode ter um desfecho que leva a fibrose e cirrose progressivas, e ao desenvolvimento de carcinoma hepatocelular.
A literatura mostra que álcool e seu metabólito acetaldeído não contribuem diretamente para a síntese de ácidos graxos, mas o acetato, o metabólito do acetaldeído, pode ser convertido em acetil-CoA, que contribui para a síntese de ácidos graxos. Ademais, o consumo álcool induz gordura no fígado e isso ocorre pelas alterações no metabolismo da gordura, sendo elas: o consumo de álcool eleva a proporção de NAD reduzido/NAD oxidado, consequência disso é a inibição da β-oxidação mitocondrial de ácidos graxos o que resulta em esteatose; o consumo de álcool pode regular positivamente a expressão hepática de SREBP1c, um fator de transcrição que estimula a expressão de genes lipogênicos; o álcool inativa o receptor α, o qual regula positivamente a expressão de muitos genes envolvidos no transporte e oxidação de ácidos graxos livres; por último o álcool pode inibir a proteína quinase e subsecuentemente inhibir a síntese de ácidos graxos, mas promover a oxidação de ácidos graxos.
Por fim, alguns quadros de gordura no fígado podem ser reversíveis, enquanto outros não. Por esse motivo, é importante o acompanhamento médico e ter atenção às mudanças e sinais corporais.
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REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA
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