A obesidade é uma epidemia global que afeta 600 milhões de adultos em todo o mundo, incluindo as mulheres na idade reprodutiva que compreendem 23% dessa coorte. A obesidade, pode impactar de várias formas o corpo feminino, como uma maior incidência de irregularidade menstrual, patologia endometrial e infertilidade, bem como maiores taxas de complicações na gravidez, o que inclui distúrbios hipertensivos, diabetes gestacional, parto prematuro e taxas de cesariana.
A obesidade afeta o eixo hipotálamo-hipófise-ovariano (HHO), ou seja, os maiores níveis de insulina circulante estimula o aumento da produção de andrógenos ovarianos, os quais são aromatizados em estrogênios, apresentando altas taxas na periferia por conta do excesso de adiposidade. Consequência disso, é o feedback negativo no eixo em questão afetando a produção de gonadotrofinas que se manifestam como anormalidades menstruais e disfunção ovulatória.
Vários estudos mostram que a obesidade pode aumentar o tempo de gravidez, além de um declínio das taxas de fecundidade com o aumento do índice de massa corporal (IMC). Em relação à fertilização in vitro, mulheres obesas têm oócitos menores que são menos propensos a fertilizar normalmente, bem como a menor taxa de nascidos vivos que parece se relacionar com o aumento do IMC.
Obesidade no eixo HHO, oócito e embrião
A obesidade afeta a regulação do eixo HHO! Mulheres obesas, possuem maiores níveis de leptina circulante, proteína denominada adipocina produzida pelo tecido adiposo, do que pessoas com o peso dentro da normalidade, o que pode levar a uma desregulação crônica desse receptor no cérebro. Logo, essas altas concentrações de leptina associada a razão leptina-IMC elevados estão associadas a menores taxas de gravidez com fertilização in vitro.
A produção de oócitos é menor em mulheres obesas, além de apresentarem uma maior taxa de cancelamento do ciclo. Um dos mecanismos potenciais para danos nas organelas oocitárias na obesidade é a lipotoxicidade. Normalmente, os ácidos graxos obtidos dieteticamente são armazenados como triglicerídeos nos adipócitos, o quais não parecem causar danos celulares. Apesar disso, mulheres obesas têm níveis elevados de ácidos graxos livres circulantes, que danificam as células que não são adiposas, aumentando as espécies reativas de oxigênio, as quais induzem o estresse mitocondrial e do retículo endoplasmático, levando à apoptose.
Ademais, os níveis elevados de leptina em mulheres obesas está associado a níveis mais elevados desse hormônio no líquido folicular. Estudos in vitro mostram que leptina afeta as vias esteroidogênicas nas células da granulosa, o que diminui a produção de estrogênio e progesterona de forma dose-dependente. Isso, a nível do oócito, pode apresentar efeitos na receptividade endometrial e na implantação do embrião.
Além de tudo, mulheres obesas também são mais propensas a criar embriões de baixa qualidade, isto é, a literatura mostra que embriões de mulheres com IMC maior que 25k g/m² foram menos propensos a desenvolver após a fertilização. Bem como aqueles que atingiram estágio de blastocisto, apresentaram menos células no trofectoderma, uma baixa captação de glicose, aumento dos níveis de triglicerídeos e que podem ser ser suscetíveis à lipotoxicidade, como no caso o oócito.
Perda de peso: impacto na obesidade e fertilidade
Os dados encontrados na literatura sobre o efeito do emagrecimento em mulheres obesas que desejam engravidar, são mistos. Apesar disso, em um estudo em que se observou 170 mulheres submetidas à fertilização in vitro, a perda de peso a curto prazo foi associada a um maior rendimento de oócitos metáfase II.
Em outro estudo, mulheres com infertilidade, no estado de sobrepeso ou obesidade, foram encaminhadas para um aconselhamento para a perda de peso, com uma meta de 10%. O total de 32% das participantes que atingiram a meta de perda de peso, tiveram a concepção e a taxa de nascidos vivos significativamente mais altas. Outro exemplo, são mulheres randomizadas para o tratamento de fertilidade com uma intervenção no estilo de vida de 12 semanas que tiveram uma perda de peso média de 6,6 kg, a qual foi associada a uma taxa de nascidos vivos maior quando comparada ao grupo controle.
Ademais, outros métodos que estão relacionados ao emagrecimento também podem melhorar a fecundidade! Mulheres que praticam atividade física moderada são associadas a um pequeno aumento na fecundidade, bem como o aumento da adesão a uma dieta mediterrânea, está correlacionado com uma maior chance de gravidez. Além disso, em um estudo com 195 pacientes do sexo feminino com histórico de cirurgia bariátrica, foi mostrado que 71% delas, que eram anovulatórias antes da cirurgia, recuperaram a menstruação normal, e isso se correlacionou com um maior grau de perda de peso.
Em síntese, é evidente que o impacto da obesidade no risco de subfertilidade e que intervenções que incluem o emagrecimento, atividade física, modificação da dieta e cirurgia bariátrica, são promissoras para mulheres com obesidade que desejam conceber, mostrando assim que emagrecer pode ajudar na fertilidade feminina.
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REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA
Broughton, Darcy; Moley, Kelle. Obesity and female infertility: potential mediators of obesity’s impact. Fertility and sterility vol. 107,4 (2017): 840-847. doi: 10.1016/j.fertnstert.2017.01.017